57º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical

Dados do Trabalho


Título

Febre Q crônica: um diagnóstico difícil

Objetivos(s)

A febre Q é uma doença causada pela bactéria Coxiella burnetii. Sua principal forma de transmissão é através da inalação de aerossóis contaminados, tendo como principal reservatório os animais rurais. Apesar de ter uma apresentação mundial, a identificação dos casos é dificultada por achados inespecíficos. Dessa forma, os objetivos do trabalho são elucidar diagnósticos diferenciais para os casos de endocardite não relacionados a doenças reumáticas, assim aumentando a sua precisão, e demonstrar a importância de novos métodos diagnósticos para doenças infecciosas.

Relato do Caso

A.V.V., masculino, 42 anos, portador de prótese aórtica biológica e tubo valvado, internado ao apresentar febre vespertina e síndrome consumptiva. Realizou tratamento empírico para tuberculose sem resposta. Foi diagnosticado com lúpus eritematoso sistêmico (LES) com início de pulsoterapia, também sem melhora.
Foi submetido a cirurgia cardíaca devido à ecocardiograma transesofágico sugestivo de abscesso periprotético aórtico. Não foi observado abscesso ou coleção, optando por não trocar a prótese, apenas realizar biópsias e cultura do material inflamatório. Alta hospitalar após melhora sintomática, encaminhado para acompanhamento clínico e hematológico.
Após 4 meses foi reinternado. Nova avaliação apresentava hepatoesplenomegalia, pancitopenia, hipoalbuminemia e proteinúria. Hemoculturas negativas no período.
Foi submetido à biópsia hepática percutânea, mostrando intenso infiltrado linfoplasmocitário com fibrose leve e dilatação sinusoidal por linfócitos. Apresentava hiperesplenismo com repercussão clínica, sendo submetido a esplenectomia visando tratamento e esclarecimento de diagnóstico para possível reabordagem da valva aórtica.
Evoluiu com disfunção hepática aguda, mantendo-se grave, com disfunção orgânica múltipla, causando sepse.
Após a evolução fatal, realizou-se análise de metagenoma sanguíneo e identificou-se o agente etiológico Coxiella burnetti, responsável pela febre Q.

Conclusão

A febre Q foi diagnosticada por metagenoma sanguíneo, pela pesquisa do RNA da bactéria no sangue do paciente. Por ser um diagnóstico difícil e incomum no Brasil, os achados inespecíficos e a ausência de causa aparente para as disfunções observadas levaram a diferentes hipóteses inconclusivas. Assim, ressalta-se a importância de considerar a doença causada pela Coxiella burnetti, principalmente diante de um quadro febril associado à endocardite não relacionada à doenças reumáticas.

Área

Eixo 11 | Infecções causadas por bactérias

Autores

Ana Clara Barros Porto Carreiro, Carolina Oliveira Pereira Esteves Neta, Luise Bernardes da Silva Neves, Maria Eduarda Bello Cosendey Ribeiro, Aniela Rodrigues Gomes de Barros, Armando Porto Carreiro de Souza