57º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical

Dados do Trabalho


Título

Desafios no tratamento da leishmaniose em idosos com múltiplas comorbidades: relato de um caso

Objetivos(s)

Relatar o caso de um paciente idoso com múltiplas comorbidades, com leishmaniose mucosa recidivante, refratária ao tratamento com anfotericina B lipossomal.

Relato do Caso

HAE, 82 anos, sexo masculino, procedente de Siderópolis/SC. Portador de doença renal crônica estadio 3, fibrilação atrial e hipertensão, em uso de anlodipino 5mg/dia, enalapril 20mg/dia, metoprolol 50mg/dia, edoxabana 30mg/dia. Histórico de Leishmaniose cutânea em 2005, tratado com glucantime EV.
Em 2017 iniciou com lesão em vestíbulo nasal direito, sem cicatrização e com sangramentos intermitentes. Realizou tratamento com anfotericina B lipossomal. Em dezembro de 2019 apresentou recidiva da lesão, iniciou anfotericina B lipossomal mas evoluiu com piora da função renal e descompensação cardíaca ( EAP), necessitando interromper o tratamento.
Referenciado para o nosso serviço em 2021, com edema e infiltração nasal, perfuração septal anterior extensa, perfuração posterior com lesão granulomatosa, e infecção bacteriana secundária. Em biópsia de lesão da mucosa nasal foram observadas várias formas amastigotas e, na análise por biologia molecular (PCR) foi detectado o gênero Leishmania.
Iniciado tratamento com doses baixas e intermitentes de antimoniato, associado a pentoxifilina. Realizou 4ml/dia EV por 4 dias e, devido delirium grave (38 dias de internação para antibioticoterapia e posterior biópsia das lesões), recebeu alta hospitalar com proposta de realizar 5ml de antimoniato IM 3x/semana e pentoxifilina por 30 dias. Fez uso de 32 ampolas (5,86 mg/kg) entre 04/08/21 a 18/10/21, com melhora total das lesões e cicatrização de bordos da perfuração septal. No sexto mês de seguimento, reiniciou com lesões na asa nasal esquerda, septo e parede lateral. Retomado tratamento com pentoxifilina por 30 dias e plano de mais 45 ampolas de antimoniato IM no regime anterior (3x/semana). No retorno após 20 dias da terapia, paciente mantém-se bem, com melhora completa das lesões.

Conclusão

Este caso destaca a complexidade e a dificuldade no manejo da leishmaniose, principalmente em alguns grupos, como o do paciente relatado. Por ser uma doença negligenciada, há pouca opção terapêutica, alta toxicidade, potenciais efeitos adversos, podendo inclusive não atingir a cura clínica e parasitológica. O tratamento utilizado, com doses não convencionais de antimoniato, apresentou boa tolerância e redução considerável da toxicidade, com maior benefício para o paciente, proporcionando ao mesmo manutenção da autonomia e qualidade de vida.

Área

Eixo 06 | Protozooses

Autores

GABRIELA MARCELINO DE SOUZA, RENATA ZOMER DE ALBERNAZ MUNIZ, MARISE MATTOS