57º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical

Dados do Trabalho


Título

A sindemia de dengue e COVID-19 em Contagem, Minas Gerais, 2020.

Introdução

Objetivo(s)

Analisar os efeitos da epidemia de COVID-19 no controle e vigilância da dengue em Contagem, Minas Gerais, em 2020.

Material e Métodos

Trata-se de um estudo ecológico com o uso de bases de dados secundários relacionadas ao controle da dengue e ocorrência de casos de COVID-19 disponibilizadas pela Secretaria Municipal de Saúde de Contagem, de 2018 a 2020. As séries de casos confirmados de dengue por semana epidemiológica (SE), bem como as ovitrampas instaladas mensalmente, foram avaliadas quanto à normalidade pelo teste de Shapiro-Wilk e comparados pelo teste de Kruskal-Wallis (H) e Dunn’s. O total de imóveis que foi visitado e que teve tratamento focal realizado ou recusado, por ciclos de dois meses, foi comparado através de RM one-way ANOVA e Tukey’s. Considerando apenas 2020, foram utilizados, respectivamente, testes de Spearman e Pearson para correlação entre ambas as enfermidades e entre os imóveis que receberam tratamento focal e casos de COVID-19. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (CAAE 46251021.6.0000.5149).

Resultados e Conclusão

O município de Contagem iniciou 2020 com notificações de dengue acima do esperado para anos não-epidêmicos, com declínio acentuado a partir da SE 11, coincidindo com o aumento de casos de COVID-19 (r = -0,47; IC95% -0,66 a -0,23; p = 0,0003). Ainda, houve redução no controle vetorial, com a suspensão do segundo Levantamento de Índice Rápido de Infestação do Aedes aegypti e baixa significativa (p < 0,05) na instalação de ovitrampas, imóveis visitados e que receberam tratamento focal. O tratamento focal apresentou correlação negativa significativa com os casos de COVID-19 (r = -0,84; IC95% -0,98 - 0,11; p = 0,0343). Já a recusa em receber os agentes de endemias aumentou em 2020 em relação a 2018 (p = 0,02).
As correlações encontradas e as dificuldades observadas em diferentes instâncias do controle da dengue corroboram com a hipótese de enfraquecimento do programa de vigilância e possível subnotificação de casos de dengue em decorrência da emergência de COVID-19. A COVID-19 representa um enorme desafio para os sistemas de saúde, sobrecarregando recursos materiais e pessoais disponíveis e interferindo em programas de vigilância e controle. Apesar dos avanços recentes na vacinação, os estudos epidemiológicos são vitais para otimização e estabelecimento de políticas públicas eficazes no combate de duas ou mais epidemias concomitantes.

Palavras-chave

COVID-19; dengue; sindemia; políticas, planejamento e administração em saúde

Área

Eixo 09 | COVID-19

Autores

Giovanna Rotondo de Araújo, Selma Costa Sousa, Juliana Maria Trindade Bezerra, David Soeiro Barbosa