Dados do Trabalho

Título

MIELITE TRANSVERSA POR CITOMEGALOVÍRUS: RELATO DE CASO DE UMA APRESENTAÇÃO ATÍPICA DA DOENÇA CITOMEGÁLICA

Objetivos(s)

O Citomegalovírus (CMV) é um vírus da família Herpesviridae com alta prevalência da infecção em diversas populações humanas (45 a 100%). Esse agente pode causar doença aguda autolimitada na maioria dos infectados, ou ainda, reativação em imunossuprimidos. A reativação da doença citomegálica pode ocorrer com colite, retinite, pericardite, hepatite, pneumonite, encefalite, síndrome de Guillain-Barré, doença do enxerto contra o hospedeiro. Neste contexto, o relato tem como objetivo, descrever a evolução de um caso de mielite transversa por CMV em um paciente imunossuprimido.

Relato do Caso

Homem cis, 39 anos, admitido em hospital com evolução nos 30 dias anteriores de quadro de cefaleia, perda ponderal, tosse, febre diária e intermitente e adenomegalia cervical. Após investigação inicial, recebeu diagnóstico da infecção pelo HIV (qRT-PCR – 23.105 cópias/mL / LTCD4+: 10 céls/mm³) e de tuberculose disseminada (pulmonar e meningoencefálica) através de detecção do DNA do Mycobacterium tuberculosis em escarro e no LCR (Xpert MTB/RIF Ultra). Optou-se por introdução do esquema para tuberculose 2RHZE+10RH e associado à corticoterapia com Prednisona 60mg/dia. Contudo, manteve febre diária e diminuição gradual de sensibilidade e força em membros inferiores, além de incontinência urinária. Devido suspeita de mielite, foi realizada ressonância magnética de coluna torácica, sem infusão de contraste, por indisponibilidade no hospital, que demonstrou hipersinal em medula ao nível de T5. A partir desses achados, optou-se por tratamento empírico para CMV com ganciclovir endovenoso enquanto aguardava-se o PCR para o agente no LCR, que posteriormente foi confirmado (qPCR: 115 cópias/mL). Houve melhora do quadro neurológico com a terapêutica antiviral, e posterior terapia de manutenção com valganciclovir. Iniciada terapia antirretroviral com Tenofovir + Lamivudina + Dolutegravir, e devido melhora e sem sequelas neurológicas, o paciente recebeu alta de internação hospitalar e segue em acompanhamento ambulatorial.

Conclusão

A mielite transversa é uma síndrome caracterizada por disfunção medular aguda ou subaguda, determinando paresia, em um nível sensorial e comprometimento autonômico. O CMV é um dos agentes que pode estar associado a esse processo inflamatório, em especial em PVHAs, e seu reconhecimento e tratamento oportunos estão relacionados a um melhor prognóstico e menores sequelas. Ressalta-se ainda a necessidade de manter a profilaxia secundária, a fim de evitar a recorrência da doença.