57º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical

Dados do Trabalho


Título

Evolução sorológica indica cura espontânea da doença de Chagas Crônica

Objetivos(s)

A infecção por Trypanosoma cruzi, quando não tratada com medicamento trypanocida, evolui para uma condição permanente, persistindo por toda a vida do indivíduo. Há três critérios de cura definidos: parasitológico, sorológico e clínico. A cura espontânea da infecção pelo Trypanosoma cruzi pode ser observada em casos de doença de Chagas experimental. Em seres humanos, continua sendo um evento muito raro e excepcional, e foi identificada em publicações de três casos na Costa Rica (Zeledón et al. RSBMT 21(1): 15-20, 1988), um caso no Uruguai (Francolino et al. RSBMT 36(1):103-107, 2003) e um caso no Brasil (Dias et al. RSBMT 41(5):505-506, 2008). Todos os pacientes foram acompanhados a partir da fase aguda e não receberam tratamento etiológico. O objetivo deste relato de caso é apresentar mais um caso documentado de cura sorológica espontânea na doença de Chagas.

Relato do Caso

Paciente de 68 anos, sexo feminino, natural da Bahia, em 2001 encaminhada de banco de sangue ao INI-Fiocruz com sorologia reagente para doença de Chagas, em seguimento em nosso serviço há 21 anos. Referia ter morado em área rural e contato com o vetor (“chupão”), porém não se lembrava de nenhum episódio febril agudo na infância ou juventude, estando afastada da área endêmica há pelo menos trinta anos, residindo na cidade do Rio de Janeiro. Encontrava-se assintomática, com exame físico sem alteração e eletrocardiograma (ECG) e ecocardiograma normais. Foi classificada na forma indeterminada da doença. Sorologia confirmatória realizada em nosso serviço evidenciou Elisa positiva com índice de reatividade (IR) = 4.4 e imunofluorescência indireta (IFI) positiva com título de 1/320.
Anualmente, foram repetidas as sorologias e o ECG, esse último permanecendo normal ao longo de todo o acompanhamento. Até 2009, o Elisa e a IFI mantiveram-se positivas com IR > 4.0 e títulos > 1/320, respectivamente, quando se iniciou uma queda progressiva do IR, no Elisa, e dos títulos, na IFI, até 2019. Em 2020 e 2021, o Elisa apresentou resultado indeterminado, tendo sido realizado pela primeira vez os exames de quimiluminescência (QL) e imunocromatografia (TR), ambos reagentes. O IFI não foi mais realizado. Em 2022, o Elisa, a QL e o TR foram negativos.

Conclusão

Este caso sugere que alguns pacientes podem evoluir para cura sorológica espontânea da doença de Chagas após muitos anos de infecção ativa, porém, ainda precisa ser investigado com que frequência esta cura acontece e qual mecanismo fisiopatogênico está envolvido.

Área

Eixo 06 | Protozooses

Autores

Alejandro Marcel Hasslocher-Moreno