57º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical

Dados do Trabalho


Título

Incapacidades físicas em hanseníase em um município hiperêndemico do Mato Grosso, Brasil: Uma análise de fatores associados

Introdução

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica que pode resultar em graves deformidades e incapacidades físicas. Tais quadros podem impactar na perda de produtividade, prejuízos financeiros e estigma entre os acometidos. O município de Rondonópolis representa uma área hiperendêmica para hanseníase em Mato Grosso que carece de estudos relacionados às incapacidades físicas.

Objetivo(s)

Investigar os fatores associados à incapacidade física em hanseníase no município de Rondonópolis.

Material e Métodos

Trata-se de um estudo epidemiológico retrospectivo. Foram incluídos todos os casos novos de hanseníase notificados em Rondonópolis, no Sistema de Informação de Agravos de Notificação, entre 2011 e 2017. Foram excluídos indivíduos institucionalizados, residentes em zona rural ou em outros municípios. Informações sociodemográficas, diagnósticas e clínicas foram coletadas para cada paciente. A ocorrência de grau de incapacidade física (GIF) I ou II no momento do diagnóstico foi definida como desfecho. A associação do desfecho com variáveis sociodemográficas, diagnósticas e clínicas foi verificada pelo teste do qui-quadrado seguido de modelagem de regressão logística múltipla.

Resultados e Conclusão

Dos casos novos de hanseníase notificados em Rondonópolis, 74,3% (n=630) foram submetidos à avaliação de GIF no momento do diagnóstico. Destes, 15,1% (n=95) e 4,8% (n=30) foram diagnosticados com GIF I e II, respectivamente. Dentre esses pacientes, houve predomínio do sexo masculino (62,4%), faixa etária > 43,5 anos (68,8%), escolaridade < 11 anos (92,2%) e raça/cor preta, parda ou indígena (54,8%). A maior parte dos casos foi notificada por serviços secundários ou terciários (77,6%) e detectada passivamente (84,0%). Segundo classificação operacional e forma clínica, os pacientes com incapacidades físicas foram majoritariamente classificados como hanseníase multibacilar (93,6%) e dimorfa/virchowiana (87,9%), respectivamente. Aproximadamente 70% dos pacientes apresentavam mais de cinco lesões cutâneas. Os pacientes com GIF I e II diferiram-se dos demais quanto à faixa etária (p<0,001), escolaridade (p<0,001), classificação operacional (p=0,01), forma clínica (p=0,005) e número de lesões cutâneas (p<0,001). Os fatores associados às incapacidades físicas foram: idade > 43,5 anos (OR=1,78; IC95%=1,1-2,8), escolaridade < 11 anos (OR=3,7; IC95%=1,7-8,0), raça/cor preta, parda ou indígena (OR=0,6; IC95%=0,4-0,9) e mais que cinco lesões cutâneas (OR=2,2; IC95%=1,4-3,6). Os dados obtidos são úteis para direcionar ações voltadas para a detecção oportuna dos casos novos de hanseníase, de modo a prevenir a ocorrência de incapacidades físicas de grau I e II.

Palavras-chave

Epidemiologia; Fatores de risco; Hanseníase; Brasil.

Área

Eixo 11 | Infecções causadas por bactérias

Autores

Carolina Lorraine Henriques Dias, Amanda Gabriela Carvalho, João Gabriel Guimarães Luz