57º Congresso da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical

Dados do Trabalho


Título

ENVENENAMENTO BOTRÓPICO COM DESFECHO DE INSUFICIÊNCIA RENAL AGUDA NA AMAZÔNIA BRASILEIRA: PERFIL CLÍNICO-EPIDEMIOLÓGICO E ANÁLISE LABORATORIAL.

Introdução

A Amazônia brasileira apresenta altas taxas de acidentes ofídicos, a maioria envolvendo a serpente Bothrops atrox, aproximadamente 90% dos casos. O envenenamento botrópico pode desencadear efeitos locais e sistêmicos, como insuficiência renal aguda (IRA). A IRA grave está associada a altas taxas de morbimortalidade, necessitando de medidas preventivas no manejo desses pacientes. Estudos propõe uma origem multifatorial na patogênese de IRA nestes envenenamentos, destacando as metaloproteinases e serinoproteases como principais toxinas nefrotóxicas envolvidas. Os fatores podem atuar de forma combinada ou isolada, como distúrbios hemodinâmicos e reações imunológicas. Todavia, um efeito direto do veneno no rim não pode ser descartado.

Objetivo(s)

Descrever o perfil clínico-epidemiológico e avaliar parâmetros laboratoriais indicativos da evolução clínica da IRA em pacientes internados por envenenamento botrópico na Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado (FMT-HVD).

Material e Métodos

Estudo transversal com pacientes vítimas de envenenamento botrópico internados na FMT-HVD, CAAE: 31535420.1.0000.0005. Na admissão, registramos os dados sócio-demográficos dos pacientes, realização da avaliação clínica e coleta de amostras de sangue e urina para execução de análises laboratoriais padronizadas, além de determinação da antigenemia (ELISA) com mAb anti-B.atrox. Como critério de inclusão, foram realizadas duas dosagens de creatinina sérica, a primeira antes da soroterapia antiveneno. O diagnóstico de IRA foi definido de acordo com as diretrizes da Acute Kidney Injury Network (AKIN).

Resultados e Conclusão

Um total de 38,6% dos pacientes desenvolveu IRA após 48h de internação, sendo 61,2% com lesão renal de estágio I, 34,7% estágio II e 4,1% estágio III. A faixa etária entre 16-45 anos (OR: 0,10; p=0,01; IC 95%: [0,02;0,59]) e presença de edema (OR: 0,11; p<0,01; IC 95%: [0,02;0,53]) foram associados à proteção contra IRA. Náusea (OR: 54,44; p<0,01; IC 95%: [3,25;909,27]), leucocitose (OR: 4,7; p=0,03; IC 95%: [1,14;19,41]) e uréia elevada (OR: 5,38; p<0,01 IC 95%: [2,12;13,65]) foram associados a um maior risco de evolução para IRA. Houve correlação positiva entre a concentração sérica do veneno e os níveis de creatinina (p=0,02) com maior risco de gravidade (p<0,004). A relação entre a concentração sérica do veneno e a gravidade de IRA sugere a participação direta das toxinas do veneno na patogênese dessa importante complicação.

Palavras-chave

Acidente ofídico, Amazônia, Bothrops, envenenamento, insuficiência renal aguda.

Área

Eixo 03 | Acidentes por animais peçonhentos

Autores

Lisele Maria Brasileiro-Martins, Raimunda Sandra Pacheco de Souza, Thaís Pinto Nascimento, Alexandre Vilhena Silva-Neto, Marilaine Martins, Rodrigo Barros Martins, Ana Maria Moura-da-Silva, Jacqueline de Almeida Gonçalves Sachett, Marco Aurélio Sartim, Priscila Ferreira de Aquino, Wuelton Marcelo Monteiro