Dados do Trabalho


Título

Primeiro registro de meningite eosinofílica causada por Gnathostoma sp. nas Américas, associada ao consumo de peixe cru na Amazônia.

Objetivos(s)

Infecções por larvas do nematódeo Gnathostoma spinigerum constituem a segunda causa principal de meningoencefalite eosinofílica, na Ásia e ilhas do Pacífico. Espécies congêneres são encontradas como causadoras da síndrome de larva migrans nas Américas, especialmente no México. Os vermes adultos geralmente se desenvolvem em felídeos selvagens, enquanto as larvas infectam peixes e outros invertebrados aquáticos. Este é o primeiro relato de infecção humana do sistema nervoso central na América do Sul.

Relato do Caso

LSN, homem, 36 anos, branco, do estado do Paraná, empresário. Ele relatou uma viagem de pesca em agosto de 2017 para o rio Juruena com parentes e amigos, na fronteira dos estados brasileiros do Amazonas e Mato Grosso. Eles consumiram peixe Tucunaré cru (Cichla spp), preparado na forma de sashimi. Indivíduos co-expostos relataram episódios de diarreia aguda em setembro. 43 dias após a exposição, o paciente desenvolveu fadiga incomum, taquicardia, dispneia associada à atividade física. 50 dias após comer o peixe, o paciente apresentou dor de cabeça frontal intensa e contínua, sem irradiação e resistente a qualquer medicamento analgésico. Não foram observadas febre, calafrios, vômitos, dor abdominal ou diarreia. Devido à piora da dor de cabeça, o paciente procurou o pronto-socorro. No exame físico: sinais vitais normais; prostração, leve rigidez do pescoço. A análise do líquor mostrou 496 células, 43 hemácias e 63% de eosinófilos). Com os relatos de episódios de dermatite linear no abdômen de outros indivíduos co-expostos, foi estabelecida a hipótese de infecção por Gnathostoma. Essa hipótese foi reforçada em maio de 2018, pela detecção de anticorpos anti-Gnathostoma no líquor, mas não no soro, com um teste imunocromatográfico (cedido pela Universidade Khon Khaen, Tailândia). O paciente foi tratado com albendazol 400 mg a cada 8 horas e dexametasona 4 mg a cada 6 horas. Houve melhora da dor de cabeça e o paciente recebeu alta 10 dias depois, usando corticosteroides orais por três meses (dexametasona) e completando albendazol por 21 dias. LSN se recuperou sem nenhuma sequela.

Conclusão

Este é o primeiro relato de meningite eosinofílica por Gnathostoma fora da área endêmica na Ásia. Torna-se importante orientar a população e turistas para evitar o consumo cru de peixes, bem como alertar as equipes de saúde para esta possibilidade etiológica em casos de meningite eosinofílica.

Área

Eixo 07 | Helmintíases

Categoria

NÃO desejo concorrer ao Prêmio Jovem Pesquisador

Autores

Dayse Graeff Souza de Pauli, Carlos Zicarelli, Leticia Walger Schultz, Vanessa Pascoal, Estefany Paiva, João Carlos Chagas, Betina Kersanach, Carlos Carlos Graeff-Teixeira